XIV

E assim mesmo

o pranto desabrido mutilado da criança

pelo brinquedo juvenil desconjuntado

o velho já velho que se agarra por medo à vida

como se ainda fosse possível estancar

um bando de estorninhos rumo ao sol

os alicerces da casa que perduram para além

do último terramoto

ou o tronco da árvore que assobia ao vento

e dá guarida às aves novas

e a igual olhar omnividente do milhafre

até ao derradeiro eclipse da luz

na esfinge inviolável do corpo

por fim perpétuo de harmonias

em todos os átomos insubmissos

dispersos para funções adstritas a um exacto preciso

ponto geométrico predestinado do espaço

duma essência em trânsito.

Vieira Calado, in Viagem através da luz

e obrigada, meu amigo pelo envio do(s) livro(s)!