segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Antes da Nazaré (5)



É mesmo setubro... calor, mas um pouco de vento, noroeste, as noites calmas e mais quentes que os dias! que bom para as festas do síto, em honra de nossa senhora da nazaré!

-Sim senhora! É para já.

Quando chegaram à porta, ficaram deslumbrados, tudo quanto havia de intervalos estava preenchido com pires de camarão, rissóis, croquetes, tirinhas de queijo, mas tudo bem feito, em miniatura. Quando entraram ficaram de boca aberta com o aspecto da mesa. A Laura, aprumada, disse:

-A Maria disse para os senhores irem petiscando, mas, quando quiserem dar ordem para servir, já está pronto.

-Vocês têm uma grande cozinheira! Estas miniaturas estão uma verdadeira especialidade.

-Olha Laura, diz à Maria que dentro de cinco minutos pode começar a servir o jantar.

-Sim, senhora.

Laura trouxe uns pires com quadradinhos de pão frito, muito estaladiço e dividiu-os pela mesa, a seguir trouxe uma terrina com creme de marisco, aquilo não era só nome, era mesmo a sério.

-Hum! Que delícia!... Disseram todos ao mesmo tempo.

-Nem precisava do pão frito, mas dá-lhe um toque especial.

-Que maravilha! - Disse o amigo Jacinto.

O filho nem olhava, parecia sôfrego. Ana olhou de soslaio para Laura, que saiu para tossir, pois não conteve o riso. A seguir o prato de peixe, vinha na travessa, mas servido em doses individuais, com folhas de alface inteiras, todas voltadas para o lado de fora da travessa, com salada russa e medalhões de pescada lindamente dourados, cada um enfeitado com um camarão, com o lombo descascad0 e as cabelas todas virads para o meio da travessa e os rabinhos para fora. A seguir veio a carne estufada, com puré de batata e uma salada muito bem temperada e com muito bom aspecto.

Tudo muito bem feito, muito bem temperado e muito saboroso.

-Como é que eu hei-de retribuir e agradecer este jantar? Nunca na vida comemos coisa igual.

-Não se peocupem. Nós estamos contentes de estar tudo ao vosso agrado. Ainda faltam os doces!... A Maria cozinha de facto muito bem, mas é uma especialista em sobremesas.

-A minha mulher só disse que o jantar era para seis pessoas, pois tínhamos amigos para o jantar. Não foi preciso dizer mais nada. Ela tratou de tudo. Até agora estamos contentes. Agora, vamos a ver o que é a sobremesa?...

Maravilha! Dois pratos com rodelas de ananás e em cada rodela um monte de doce de ovos com amêndoa torrada em cima de cda montinho. Trouxas de ovos no centro, colocadas numa roda. Delícias belas... Bom aspecto e bom sabor.

-Nunca na minha vida, comi um jantar assim em qualquer lado!...Isto foi do melhor do mundo.

-Bem, então vamos para a sala que a Laura traz-nos um cafezinho e uma aguardente, e um vinho do Porto para as senhoras.

-Ai, eu agradeço um digestivozinho, que estou cheia até demais não.

-Eu também faço companhia - disse a dona da casa.

Não tomo café porque à noite tira-me o sono, mas um cálice de Porto tomo, que gosto muito e auxilia a digestão.

O Ildefonso, todo refastelado num sofá, já tinha aberto a boca umas poucas de vezes. A Ana, só para não dizerem que era mal educada, umas das vezes que bocejou, disse-lhe:

-Estás com sono...

Ele respondeu:
-Depois de um jantar destes não querias que ficasse com sono? Porque dizes isso?

-Porque já abriste a boca umas poucas de vezes.

-Porquê? Não é normal abrir a boca?...

-É. Tudo quanto é natural nas pessoas é normal.

Pediu licença e levantou-se, dirigiu-se à casa de banho. A Laura estava a limpar uns pingos que estavam no chão, levatou-se de repente e perguntou:

-Então? Está tudo bem?

-Até agora penso que sim. Ninguém falou em nada, mas tenho a impressão que ali, quem se aproveita é o pai. Mas eu estou preparada para tudo. Sai primeiro para ninguém descongiar de nada, depois conto-te tudo.

-Estão todos admirados com o jantar, mas não ligaram às rosas.

-Pois não, Laura. Aqueles botões tão linds foi o mesmo que pérolas a porcos, atiraram-se logo às entradas que estavam na mesa.

-Sabe? Eu tirei os espinhos a todos, menos ao que ficou no lugar do Fonfon, mas não valeu de nada, que ele nem o viu, não se podia picar...

-Bem, vai, para não acharem que eu me estou a demorar muito.

Quando chegaram à sala estava a mãe e a D. Efigénia com os cálices de vinho do Porto, o pai e o amigo conversavam de negócios, o Ildefonso, alheio a tudo, de boca aberta, dormia que era um regalo. Entrou e nem deram por ela, foi buscar uma jarra pequena onde pôs os botões que foi buscar à casa de jantar. Conversando com eles, disse-lhes:

-Lindos! São tão belos e ninguém vos ligou, daqui a pouco, aqui nesta água, já estais mais espertinhos, vou colocá-los aqui junto do retrato da minha avó. A minha mãe diz que foi ela que plantou a roseira grená.

Entretanto Ildefonso acordou e esticou-ase como se estivesse sozinho em casa. A D. Lídia, mãe de Ana, e D. Efigénia, mãe do Ildefonso, estavam entretidas a conversar sobre modas, com os cálices despejados nas mãos... A Ana pegou na garrafa e perguntou se queriam mais um bocadinho. Nem uma nem outra quiseram mais. Continuaram a conversar. A Ana muito delicadamente retirou-lhes os cálices das mãos e colocou-os numa bandeja.

Cipriano e Jacinto continuaram a conversar, mas, ao primeiro que era o dono da casa, nada passava despercebido. A Ana que andava por ali fingindo-se preocupada, só ouviu o pai dizer:

-Por enquanto nada disso me passa pela cabeça. Ela é muito novinha, ainda há dias completou dezassete anos. Não estou interessado em enforcá-la.

Por seu lado, a mãe de Ildefonso não fazia outra coisa se não enaltecer as qualidades do filho. Ana foi à varanda e, quando entrou, disse:
-Está uma noite linda! No céu não cabem mais estrelas e a lua espelhada no mar faz um passeio brilhante que cintila maravilhosamente. É lindo! Nem corre aragem.

O pessoal na cozinha acabou de jantar e Maria disse à Laura:

-Vai pedir à senhora licença para levantares a mesa, que é para nós arrumarmos a cozinha.

-Está bem. Também quero arrumar a sala de jantar, que tenho que escovar a carpete toda, que está cheia de migalhas.

Laura dirigiu-se à patroa e disse-lhe:

- A senhora acha que posso levantar a mesa?

-Podes. O que quiserem comer, comam, o que não quiserem metam na geleira.

-Está bem, muito obrigada minha senhora.

Foi limpando os pratos uns para os outros e juntando as sobras dos doces todas na mesma travessa, juntando as carnes também. Os restos dos pratos todos para o que ia ao cimo e arrumou tudo no carrinho da copa. O pessoal já estava tratado, as travessas das sobras foram tapadas com papel manteiga e foram para a geleira.

-Amanhã também é dia. Hoje já estamos todos tratados, sem ter fome não se come. Há aí gentinha que tem dias que não vê uma côdea de pão, por isso é uma afronta comer com a barriga cheia, só por gulodice.

Todos concordaram. Também se não concordassem, era o mesmo...

A Maria era assim. A casa era farta, não havia necessidade de estragar, uma vez que os patrões não olhavam ao que o pessoal comia... Entretanto na sala começaram a despedir-se. Muitos agradecimentos, muitos abraços, o jantar muito gabado, e a promessa do próximo encontro ser na casa do amigo Jacinto, D. Efigénia disse para o filho:
-Ildefonso! Então? Não te despedes e agradeces?

-Para quê? Vocês não se despediram já e agradeceram?

-Deixem lá, não se preocupem, ele tem razão. Não tem nada que agardecer.

Jacinto com um ar meio enjoado, disse para o amigo:

-O próximo jantar é comigo, depois marca-se. Está bem? Até à próxima e muito, muito obrigado.

Assim que entraram na charrete, o amigo Jacinto disse com um ar muito irado, para o filho:

-Tu não tens vergonha? Fazes cada figura!...

-Que figura fez o rapaz - Perguntou a D. Efigénia.

-Tu não viste? Devias estar noutro mundo... Nem um cocheiro se comportava assim! Querias tu que ele pedisse a mão daquela menina para uma besta destas!...

Ildefonso já roncava, nem sequer ouviu o resto da conversa do pai. Jacinto, muito irritado, prosseguiu:

-Como é que vou descalçar esta bota, para retribuir um jantar destes?

-Não me ralo nada!... Falo a uma boa cosinheira que trate de tudo!

-Pois é. E, o que fazes a esta lesma? Que vergonha!... Achaste sempre que o teu menino podia fazer tudo, por ser rico, era mais que os outros! Hoje, até eu me senti diminuido.

Entretanto os dias passavam lá no Casal Mota e o João disse à mãe que a casa precisava de ser caiada, gostava que ao longe fosse a casa mais branquinha.

-Pois é, filho. Para isso tenho que ir comprar umas poucas de pedras de cal para se matar ali naquele latão, que era lá que o teu falecido pai fazia esse trabalho. A casa, desde que ele morreu, nunca mais foi caiada.

Dentro de um balde estava um pouco de alcatrão, com o qual betumavam as rachas que a eira ganhava, para que os cereais não se infiltrassem porque, depois, nasciam lá muitas ervas. O João foi faazer esse trabalho, depois de limpar o pincel, escreveu um grande A na empena da cena, um N e outro A.

- continua -

23 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Vim a correr ler. Estou a seguir a história com muito interesse.
Um abraço e uma boa semana

gaivota disse...

elvira
está a ser interessante, escrito por uma mulher simples, daqui, com cheiro a mar!
beijinhos

São disse...

Santo Nome, que as minhas unhas, coitadinhas...

Beijinhos, linda-

gaivota disse...

são
vá, tem calma... isto há-de lá ir!
beijinhossssssss

FOTOS-SUSY disse...

OLA AMIGA, OBRIGADO PELA VISITA, QUE TENHAS UMAS BOAS FERIAS NOS ACORES, BELA HISTORIA...
BEIJOS

SUSY

Luna disse...

Bem miga depois das tuas férias vou continuar a ler a história
diverte-te bastante
beijinhos

BC disse...

O vento é geral,mas também está muito calor, o tempo anda todo trocado.
Obrigada pelas visitas, só agora vou começar a por as visitas em dia.
Beijinhos
Isabel

Rita Galante disse...

Passei para deixar beijinhos... apenas... Fica bem, fica em Paz.

gaivota disse...

fotos-susy
obrigada, susy, vai ser bom voltar aos açores, é sempre bom!
beijinhos

gaivota disse...

multiolhares
obrigada, luna, vai ser bom, diferente!!!!!
beijinhos

gaivota disse...

bc
pois é, isabel ,está muito calor, e agora trovoada, é a antecipar os tempos que "apanharei" nos açores...
beijinhos

gaivota disse...

princesa
obrigada, e há que tentar fazer tudo para nos mantermos felizes com os nossos amigos!
beijinhos

gaivota disse...

angel of light
e para ti també, muita paz e luz,
fica bem
beijinhos

GarçaReal disse...

Comecei a ler teu conto......

Estou a adorar.

Boa viagem menina do mar e terra

bjgrande do Lago

GarçaReal disse...

Ainda aqui estou....
Estive a ler todo o conto.

Estou a gostar muito

Desculpa o comentário apagado. Fui eu, pois dupliquei.

bjgrande do lago

Fá menor disse...

Estou deveras impressionada... este jantar, fez-me crescer água na boca!

Belíssima descrição!

Muitos beijinhos.

Diverte-te!

poetaeusou . . . disse...

*
divulga
a Francelina nos Açores,
porque ela merece,
,
dá um abraço ao Pauleta,
,
pilipares,
,
*

gaivota disse...

garça real
vai curtindo o romance...
já chegámos ao paraíso!
beijinhos

gaivota disse...

garça real
agora vou mostrar estas belezas das nossas (ainda) pérolas do atlântico! este sítio é fantástico!!!!!!!
beijinhos

gaivota disse...

fa menor
pois foi um belo jantar...
vamos ver como se seguirá!
agora aqui, já mostro outras coisas!
beijinhosssssssss

gaivota disse...

poetaeusou
acredita que sim! trouxe o livro...
o pauleta não o verei, não vou a s. miguel...
lolololol
mas tenho aqui outros a quem dar abraços benfiquistas!!!
pilipares

Chinha disse...

Sempre lendo o teu conto magnifico e esperando o desenrolar....

bjitos

gaivota disse...

chinha
agora intervalei com as nossas ilhas... mas voltarei!
beijinhos