sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Antes da Nazaré (4)

Fim de verão, algumas barracas já estão desarmadas, prontas a guardar, lavar, remendar...
Já é Setubroooooooooooooooooooooooooooooooo

É?... Então sou eu que sou feio e te pareço bonito. Apetecia-me comer-te com beijos! Sabes porquê?, porque tu estás a dizer que me amas, e eu estar aqui junto de ti a ver a tua doçura e simplicidade apetece-me apertar-te e beijar-te.
-É? Então é melhor ires cavar para os caixins para ajudares os teus pais e ganhares dinheiro para te casares, porque enquanto não casarmos, não quero cá confianças nenhumas!
-Ah! Mas que segurança!... Eu tou maluco...
-Tás maluco? Então vai-te curar! Quem não se guarda por si, não é bem guardado. Eu não tenho ninguém. O meu pai morreu era eu pequenina, a minha mãe foi servir e morreu com cancro, já eu e as minhas irmãs estávamos a servir, nem sei onde elas estão.
-Não me digas? Tu estás só no mundo, Laura?
-Não! Há muita gente... E, tenho Deus para me guardar. Onde trabalho, como e durmo nada me falta, estou bem. Que horas estão a dar na torre?
-Seis e meia
-De certeza? é que a patroa disse que me queria lá às sete em ponto, e eu não quero que ela tenha por onde pegar. Hoje tem visitas de cerimónia, são aqueles amigos ricos que têm o tal filho que a menina não gosta nada, e eles andam todos embeiçados.
-Vamos andando então.uma vez que ela disse que te quer lá às sete, nós estamos um bocadinho a conversar lá ao portão e, antes das horas baterem na torre, já tu lá estás. Não é assim, minha Laurinha?
-É sim, Raulinho da tua mãe. Porque meu namorado és. Serás meu marido? Espero que sim, mas até lá, és sempre o menino da tua mãe. E serás sempre! Porque os filhos, mesmo que se casem, não deixam de ser filhos de quem são. só pelaq lei, pertencem um ao outro, ou a outra.
-Muito bem! Queres que bata palmas?...
-Nãp!... Não estamos no teatro...
-Pois não! Mas as coisas que tu dizes são muito bonitas. Uma nora e uma sogra serem amigas é lindo!...
-Pois é. Eu também acho. É verdade, falando nisso, já contaste à tua mãe que namoravas comigo?
-Ainda não. Mas vou contar. Olha as horas estão a dar. Adeusinho, até domingo.
Disseram os dois ao mesmo tempo. Ainda as horas estavam a dar, já a Laura se estava a fardar.
Num instante estava pronta, foi ter com a Ana ao quarto.
-A menina já está pronta, ou precisa de ajuda?
-Para que queres que eu precise de ajuda? Para agradar a quem? Se eu pudesse transformar-me num monstro!... Vamos lá ver, em que é que isto vai dar... Vai lá ver se precisam de alguma coisa, antes dos reis virem. Que isto mais parece uma recepção aos reis, só falta a passadeira vermelha!...
-Está bem. Eu vou. Tenha calma e ponha-se descontraída!
já vinha a mãe pelo corredor fora.
-Ah! Pensava que ainda não tinhas vindo...
-Eu? Ainda não tinham dado as sete, já eu estava na casa de banho. Fui só ver se a menina estava bem.
-Pronto. Acho muito bem, quem está ao meu serviço é para cumprir as minhas ordens.
-E cumpro. Até à data, a senhora não tem razão de queixa... Espero que nunca tenha, porque é sinal que eu também não tenho. Eu sou pobre mas gosto de respeitar para ser respeitada. Aqui estou bem, também é como gosto.
-Pronto. Já apanhaste os tais botões de rosa de que tinhas falado?
-Olhe, não, minha senhora, e fez bem lembrar-me, que eu passou-me completamente. Mas também se apanham num instante e ficam mais fresquinhas.
Laura desceu ao jardim com a tesoura na mão para cortar os ditos botõezinhos, tirou-lhes todos os espinhos,menos um.
Pôs-se a olhar para a mesa e a falar com os seus botões:
-Aqui fica o patrão, à direita a senhora visitante, à esquerda a minha patroa, a seguir o senhor visitante, a seguir a menina Ana e, aqui... é o botãozinho dos espinhos que fica aqui, no lugar do fonfonzinho...
Tinha precisamente acabado de pôr os botões nos lugares, quando a patroa chegou para verificar se estava tudo em ordem.
-Sim senhora, está tudo lindamente.
Laura disse:
-Eu não sou muito burra... Quando me explicam bem, eu aprendo bem, sei que o dono da casa é no topo da mesa, sei que se serve também pela esquerda e, se alguém pedir alguma coisa, se traz numa salva de prata.
-Muito bem. Se tocarem à porta, mandas entrar e dirigem-se à sala. Dizes assim: "Façam favor de entrar, que os senhores estsão à espera de vossas excelências.
-Sim, minha senhora. A senhora já me tinha ensinado, até me disse que eu fico de lado e indico às visitas qual a divisão a que se devem dirigir.
-Muito bem, é mesmo assim! Tu jáme tinhas que não és burra, e eu confirmo.
Não tardou muito que tocassem à porta. Laura foi abrir o portão e, com toda a gentileza, disse:
-Tenham a bondade de entrar, que os meus patrões já esperam vossas excelências na sala.
Entretanto já a patroa estava a chamar a filha.
-Ana! Ana! Já cá estão os nossos convidados. Vem depressa.
-Já aqui estou, mãezinha.
O dono da casa veio logo ao encontro dos visitantes.
-Olha os meus queridos amigos. Sejam bem vindos a esta vossa humilde casa.
-Humilde?!!! Só as vistas são uma riqueza. Do alto da Pederneira avista-se a praia inteira, o promontório e o farol. Vê-se até o Rio Alcoa e este lindo pôr-do-sol.
-Que coisas tão belas que o meu amigo sabe dizer! Isso é poesia!...
-Ah! Ah! Ah! É o que eu vejo! Isto é facto dos lugares mais belos que há no mundo.
-Aqui vem a nossa princesa! Então como estás Aninhas?
-Estou bem. Obrigada!E os senhores, como têm passado?
-Vai-se vivendo. Então, Ildefonso, não cumprimentas a Aninhas?
-Ah! Desculpa. Estava tão absorto a ver o sol esconder-se... Que não me apercebi da tua chegada. Peço mil perdões!
-Não tem i mportância... Não te preocupes... Eu estou sempre bem, desde que tudo me corra bem!...
-Pois é. Toda a gente é assim!
-Não! Nem toda a gente é assim... Eu, gosto de estar no meu cantinho em paz! Tomara que ninguém me apoquente, que eu também não apoquento ninguém.
-Tens razão. Mas, hoje, acho-te um pouco azeda...
-Achas?... Deve ser do calor... Até as comidas azedam!
-Brincalhona!...
_não me digas que as comidas com o calor azedam?
-Eu não sabia, não sou cozinheiro...
-Também não sou cozinheira e sei!
O pai da Ana aproximou-se e perguntou:
-Então, estão muito entretidos... Pode-se saber de que falavam?
Anan adiantando-se, respondeu:
-Só parvoíces!
-Então que parvoíces?
-Olhe paizinho, falávamos de comidas azedas... Não é verdade Ildefonso?
-É. É verdade!
Respondeu ele, com o ar mais parvo do mundo. O pai voltou as costas e foi sentar-se a conversar.
-Vamos tomando um aperitivo enquanto a comida não vem para a mesa.
A mãezinha do menino nem sabia falar... Ele saíu a ela! O amigo Jacinto só casou com ela, porque era riquíssima... Pensava ele, com os seus botões.
Dá-me a sensação que a minha mulher está a querer embarcar nisto, mas eu não vou sacrificar a minha filha.
Mas também não vou dizer nada, pode haver algum bom negócio metido nisto... Portanto, deixa andar, que ela é muito nova e linda e solteira não fica...
Estava muito absorto nos seus pensamentos, que até entornou o aperitivo quando o amigo lhe perguntou o que se passava.
-Ah! Nada, nada, estava a pensar o que será o jantar, que a nossa cozinheira disse à minha mulher que deixasse com ela, que fazia um jantar memorável, e eu estou preocupado.
-Não se preocupe! Qualquer coisa serve...Se a sua esposa deixou a cozinheira decidir, é porque acha que ela é competente.
Nisto chegou Laura que disse:
- Quando quiserem, podem-se ir dirigindo à casa de jantar.
-Sim senhora! É para já.

- continua -

22 comentários:

rendadebilros disse...

Os indícios bem mostram que o verão acabou... ficam as recordações...

A novela continua em suspense... antes da Nazaré...

L e n a disse...

A historia esta a ser interessante e acaba sempre depressa demais..
A francelina tem mesmo aquela arte de misturar a historia da Ana e do João e a beleza da Nazaré.

Então as barracas estão a ser retiradas e a Nazaré volta a ser ela...era agora que havia de ai estar. Que pena !!!!

Beijinhos

Bom fim de semana !

helia disse...

O Verão a findar , as barracas a serem retiradas, mas a praia fica e o encanto da Nazaré mantém-se durante todo o ano

EDUARDO POISL disse...

Pensamos demasiadamente
Sentimos muito pouco
Necessitamos mais de humildade
Que de máquinas.
Mais de bondade e ternura
Que de inteligência.
Sem isso,
A vida se tornará violenta e
Tudo se perderá.
(Charles Chaplin)

Hoje passando para desejar um final de semana com muito amor e carinho.
Abraços do amigo Eduardo Poisl.

gaivota disse...

rendadebilros
pois é... finais de verão, praia vazia!
o romance/novela continua...
beijinhos

gaivota disse...

lena
barracas agora até fim de setembro, só para norte, da bola nívea às pedras
está mais nossa, mais linda aindaaaaaaaaaa
o romance seguirá...
beijinhos

gaivota disse...

helia
o encanto, esse é eterno!
mais nosso...hihihihhi
beijinhos

gaivota disse...

eduardo poisl
as verdades de charlie chaplin!
bom fim de semana também para ti
beijinhos

SerenoSobressalto disse...

Passei só para dizer olá e agradecer as visitas. Nolto para ler melhor o texto.... a cada verão que termina, tenho sempre a sensação de que é menos 1...

Bjss e bfs

Fá menor disse...

Está interessantíssimo!
Que se irá passar de seguida?... hum!...

"os filhos, mesmo que se casem, não deixam de ser filhos de quem são"
"Uma nora e uma sogra serem amigas é lindo!..."
Falaste para mim, ou de mim? lol

Bjinhos

gaivota disse...

sereno sobressalto
pois volta, quando quiseres
cada verão é diferente, começa e acaba... muita gente, vidas qu se entendem à mistura!
beijinhos

gaivota disse...

famenor
para ti?!?! de ti?!?!? é a história que a francelina nos relata neste romance...
lololololol
a minha sogra era bué de fixe!!!
beijinhos
tou quase no ir...

São disse...

Bom, e lá fico à porta da casa de jantar...

João Banza é o filho mais novo de uma prima minha.

Um bom fim de semana, minha xará.

Alice Matos disse...

As minhas férias são sempre passadas na Nazaré...
Barracas arrumadas e a saudade a chegar...

Beijo

gaivota disse...

são
pois.................
bem sei, calculava, já o pai tinha a ver com a modalidade!
depois conto o jantar...
beijinhos

gaivota disse...

alice matos
as saudades que se mantêm sempre...
e tu aqui tão perto!
beijinhos

Elvira Carvalho disse...

A história cada dia mais interessante. Li-a com sofreguidão desde o segundo capitulo. E fico aguardando a continuação.
Um abraço e bom fim de semana

gaivota disse...

elvira carvalho
obrigada pelo interesse, é um romance de "praia", de outros tempos... vai continuar
beijinhossss

Oliva verde disse...

Interessante! Estou curiosa para conhecer o resto da história. Vou voltar, claro!
Beijinhos

gaivota disse...

oliva verde
também não sei como vai ser...
vai continuar!
beijinhos

poetaeusou . . . disse...

*
foi em Setembro,
que me encontrei . . .
,
pilipares,
,
*

gaivota disse...

poetaeusou
em setubro, digo eu!
daqui a 15 dais já tá tudo a pedir agosto outra vez...
pilipares